“O mapa compreende qualitativamente o espaço. Ele se funda sobre ideias de hierarquia, de correspondência, de oposição; ele provoca uma leitura tendenciosa – à maneira, diz-se, da heráldica. Ele é assim peregrinação interior. A riqueza da tradição cartográfica medieval não resulta menos de sua extrema diversidade: por vez na visão da representação, e na forma geral que lhe é dada. Ela manifesta a variedade de pontos de vista determinando a percepção como também a concepção do espaço. Em outros termos, entre os diversos tipos de mapas medievais, a diferença é mais semântica do que formal. A figuração tende menos a uma veracidade absoluta que a uma utilidade particular, relativa a uma situação. Essa instabilidade aparece tão natural ao espírito desse tempo que os manuscritos onde a mesma mão desenha mapas de aparência contraditória não são raros.” (p. 322)
ZUMTHOR, Paul. La mesure du monde: representation de l’espace au moyen âge. Paris: éditions du seuil, 1993.
O caráter narrativo dos mapas medievais foi suprimido pela emergência de uma linguagem cartográfica com pretensões científicas. Creio que a arte contemporânea tenha resgatado um pouco dessa abertura narrativa, resgatando, portanto, o imaginário ficcional sobre o espaço que foi reprimido por tanto tempo.