O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu semblante está voltado para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as arremessa a seus pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que o anjo não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele volta as costas, enquanto o amontoado de ruínas diante dele cresce até o céu. É a essa tempestade que chamamos progresso.
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 2012.
Estive no Museu Nacional por volta de 2012, não me lembro exatamente. Fomos de metrô. Já era visível o estado de degradação do museu. Fiz questão de dedicar um tempo à Luzia, também mineira, que eu havia conhecido numa remota aula de ciências.
Esta é a segunda vez que uso o Anjo da História de Benjamin para comentar sobre o Brasil. Nosso país é uma nação em ruínas. Em nome do “progresso”, a cultura e a história se tornam despesas, “coisa de esquerdista”. É o teto de gastos que desaba na cabeça.
“Frágil força messiânica para a qual o passado dirige um apelo”. Benjamin, tese no. 2.