“Eu diria simplesmente que algo é visto como arte quando é transmitido pelas mídias da arte. Tomemos uma fotografia da chegada do homem à Lua. É uma fotografia feita automaticamente. Nenhum fotógrafo estava lá. Nós nos lembramos de duas pegadas na areia na Lua. Afirmo que essa fotografia é pura arte quanto é exposta em uma galeria de arte. Essa fotografia é pura ciência quando é examinada em um laboratório astronômico. Essa fotografia é pura política quando está pendurada em um consulado americano. A classificação em ciência, arte e política não é feita pelos produtores, mas pelas mídias (p. 175)”
No trecho acima, Flusser comenta que autoridade de uma obra de arte não é intrínseca ao objeto, não é parte dele. Essa atribuição parte de uma autoridade externa (“as mídias”). A sacada de Duchamp foi essencial para escancarar isso, ao colocar um objeto do cotidiano no espaço institucionalizado do museu. Arte, então, passa a ser o que as autoridades artísticas dizem que é.
Um pouco mais adiante, Flusser dialoga com Benjamin, referindo-se aos textos sobre a “Reprodutibilidade da obra de arte” e do “Autor como produtor”.
“Quando cai a aura da obra de arte, no momento da reprodutibilidade técnica, caem o autor e a autoridade. No lugar do autor surge a criatividade gerada por competências cruzadas entre homens e inteligências artificiais. No lugar da autoridade entram as mídias. Essa talvez seja a essência da revolução na comunicação. É uma crítica cultural importante, graças à comunicologia” (p. 178).
FLUSSER, Vilém. Comunicologia: reflexões sobre o futuro. São Paulo: Martins Fontes – selo Martins, 2014. p. 175