O nível da rua

“Aqui, o elemento chave é a importância das calçadas, não porque proporcionem uma alternativa ecológica confiável às rodovias (embora isso seja verdade), nem porque andar é um exercício melhor do que dirigir um automóvel (o que também é verdade, aliás), nem porque as cidades centradas em pedestres sejam graciosamente antiquadas (o que é mais uma questão de moda do que uma evidência empírica). (…) O que importa é que elas são as condutoras primárias do fluxo de informações entre os habitantes. Os vizinhos aprendem uns com os outros porque passam uns pelos outros – e pelas lojas e moradia dos outros – nas calçadas. Elas permitem uma banda de comunicação relativamente larga entre totais estranhos e misturam grande número de indivíduos em configurações acidentais. Sem as calçadas as cidades seriam como formigas sem o sentido do olfato ou uma colônia com um número muito reduzido de operárias. As calçadas suprem o tipo correto e o número correto das interrelações locais. Elas são as junções da vida da cidade.”

Um complemento sobre o problema das cidades centradas em automóveis:

“o potencial para interações locais é tão limitado pela velocidade e distância percorrida pelo automóvel que nenhuma ordem superior pode emergir. Por tudo o que sabemos, deve haver algum alargamento psicológico em olhar as favelas de dentro de seu Ford Explorer, mas essa experiência nada fará para melhorar a saúde da cidade, pois a informação transmitida entre os agentes é esquálida e efêmera demais. A vida da cidade depende da interação acidental entre os estranhos que muda o comportamento individual. (…) Encontrar a diversidade nada faz pelo sistema global da cidade, a menos que esse encontro tenha alguma chance de alterar um comportamento. É necessário haver feedback entre agentes, células que mudam em resposta a outras células. A 100 quilômetros por hora, a informação transmitida entre os agentes é limitada demais para interações sutis.”

JOHNSON, Steven. Emergência: a dinâmica de rede em formigas, cérebros, cidades e softwares. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003. p. 69-70

Talvez a redução da velocidade dos automóveis em São Paulo devido aos constanstes congestionamento possa gerar um efeito positivo a longo prazo: uma interação maior e mais rica entre os agentes circulantes.

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