Mapa conceitual auto-biográfico – Território existencial auto-referencial

Daniel Melo Ribeiro

Este artigo surgiu a partir de uma demanda da disciplina “Conceitos Fundamentais e Práticas no Design e Estéticas Tecnológicas”, ministrada pela Prof. Lucia Leão no curso de pós-graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital da PUC-SP.

Subjetividade: “o conjunto das condições que torna possível que instâncias individuais e/ou coletivas estejam em posição de emergir como território existencial auto-referencial, em adjacência ou em relação de delimitação com uma alteridade ela mesma subjetiva.” (GUATTARI. “Caosmose. Um novo paradigma estético”. Rio de Janeiro – Ed. 34, 1992.)

“… the real challenge of data art is not about how to map some abstract and impersonal data into something meaningful and beautiful – economists, graphic designers, and scientists are already doing this quite well. The more interesting and at the end maybe more important challenge is how to represent the personal subjective experience of a person living in a data society. If daily interaction with volumes of data and numerous messages is part of our new ‘data-subjectivity’, how can we represent this experience in new ways? How new media can represent the ambiguity, the otherness, the multi-dimensionality of our experience, going beyond already familiar and ‘normalized’ modernist techniques of montage, surrealism, absurd, etc.? In short, rather than trying hard to pursue the anti-sublime ideal, data visualization artists should also not forget that art has the unique license to portray human subjectivity – including its fundamental new dimension of being ‘immersed in data.'” (MANOVICH, Lev. Data Visualisation as New Abstraction and Anti-Sublime. Disponível em www.manovich.net/DOCS/data_art_2.doc)

“Os limites da linguagem representam os limites do meu mundo” (Wittgenstein).

Ética – fazer
Estética – sentir
Lógica – pensar

Mapeamento de dados: faces de um universo digital

Um dos maiores desafios da “era da informação” está em encontrar, dentre a massa de dados disponíveis, um recorte mais relevante que atenda uma dada carência de conhecimento. Tal volume de dados que circula pelas novas mídias interativas certamente tende a se potencializar com o avanço incessante da tecnologia da informação e do universo digital. Afinal, desde que passamos a colaborar com a produção de conteúdo para a Internet por meio da popularização de ferramentas como blogs, fotologs, wikis e podcasts, virtualmente estamos aptos a alcançar qualquer público.

Nesse contexto, cabe aos profissionais da informação munir-se de novas estratégias e metodologias para mapear e exibir recortes de dados da maneira mais apropriada para a sua audiência, a fim de oferecer-lhes informação nova e útil. Assim, o desenvolvimento de mecanismos mais inteligentes de busca na Internet, personalizados de acordo com as preferências do usuário, e a expansão do uso dos metadados são exemplos de esforços promovidos pelas equipes de TI para justamente adicionar mais relevância aos dados em formato digital.

Atualmente, as propostas de sites mais populares disponíveis na Internet (e comercialmente mais chamativas) são aquelas que, de alguma forma, souberam mapear a informação oferecida de uma maneira inovadora e simples. Na maioria das vezes, contando com a participação do usuário, afinal ninguém melhor do que o próprio interessado e sua comunidade para classificar um conteúdo dentro das suas preferências e expectativas. A “Internet colaborativa”, então, é o jargão do momento, o norte para aqueles que buscam mais “humanização” na rede.

Arquitetura da informação e a criação de mapas conceituais

A demanda deste exercício consiste em criar um mapa conceitual biográfico, que contenha conceitos relevantes da trajetória do autor, embasado pelos pilares da “estética”, da “ética” e da “lógica”.

Podemos dizer que a criação de mapas conceituais representa um esforço de recorte de informações numa outra perspectiva, muitas vezes mais visual, esquemática e não linear. É uma ferramenta didática útil para a representação de conceitos e os seus relacionamentos entre si.

Porém, como representar conceitos tão complexos como “trajetória de vida”, “sonhos”, “expectativas”, “experiências”, “desejos” e “conhecimento”, delimitando-os numa linha de tempo recheada de subjetivismo? Como poderíamos representar um mapa conceitual autobiográfico que fosse compreensível para o leitor? Absolutamente não haveria uma maneira de se totalizar num esquema algo tão rico em conceitos diversos, emaranhados numa rede de interconexões que só fazem sentido no universo do próprio autor.

De maneira análoga, os profissionais da arquitetura da informação se deparam com constantes desafios desse tipo. Precisam criar propostas de mapeamento de dados, dentre conceitos muitas vezes nebulosos, cujos relacionamentos se estreitam, à medida que adentramos no seu universo. Mas, justamente por isso, não cabe a eles transportar todo esse conhecimento (que sempre será individual) para um sistema de informação, e sim ter a competência para escolher o mapeamento mais adequado ao seu público.

Assim, o mapa conceitual autobiográfico deste exercício consistirá numa circunscrição ou recorte de certos aspectos, de alguma maneira significativos, a fim de auxiliar num processo de auto-conhecimento. Mas sem a pretensão de esgotar a “essência” do autor. Muito pelo contrário, estará aberto para constantes contribuições.

Território existencial auto-referencial

Os lugares que já visitamos ou que costumamos ir dizem muito sobre nossos hábitos, preferências e desejos. Guardar registros dessas passagens pode nos ajudar a compreender os porquês das nossas escolhas, nos dão uma visão da nossa condição atual e nos projetam para novas experiências. Mais do que isso, tais registros também podem ter muito significado para outras pessoas, afinal os lugares são públicos. Como pontos de paradas em rodovias ou nós em uma rede.

Então, sob essa perspectiva, criei um perfil no Delicious (http://del.icio.us). Ao compartilhar meus bookmarks e tornar públicas as paradas que fiz e costumo fazer na Internet, apresento um mapeamento da minha própria biografia, num recorte simplificado.

Além disso, ao criar tags para cada um dos sites visitados, classifico tais registros em agrupamentos conceituais. Posso também perceber, num modo de visualização chamado tag cloud, quais agrupamentos estão mais “recheados” de links, o que me permitirá concluir qual aspecto tem mais “peso” em minha vida. Por fim, permito que outras pessoas transitem pelos meus registros, conheçam novos lugares, identifiquem-se com minhas preferências. (e vice-versa).

O Delicious é, como o Flickr (http://www.flickr.com), o Youtube (http://www.youtube.com), o MySpace (http://www.myspace.com) e o Digg (http://www.digg.com), uma ferramenta de socialização de conteúdo na Internet. No seu caso, as URL’s da Internet são seus dados, mas a informação que a torna interessante para a comunidade é a que diz: “eu passei por aqui e gostei”.

Alguém passou por aqui

Tal como animais que delimitam o seu território, gostamos também de demonstrar aos outros que um determinado lugar também é parte da nossa existência. Mais do que “espaços” como dimensões abstratas, demarcamos os nossos “lugares”, nossos territórios de afetos.

Os links foram adicionados num processo de brainstorm, a medida que foram sendo lembrados, e, por esse motivo eu não pretendia esgotar a infinidade de sites que já visitei. Mas, a lista só tende a crescer, ao passo que freqüentes atualizações serão feitas (essa é a proposta!).

Por outro lado, realizar essa carga inicial sem muito critério apontou para um fato significativo: representa o que estava em minha lembrança no momento em que fazia o exercício. Tal como uma imagem refletida. Está lá o que eu sou hoje, pelo menos um resumo. Bom, se serviu de alerta para mim mesmo, acho que coloquei links demais na categoria “trabalho”…

Daniel Melo Ribeiro
http://del.icio.us/danielmelo

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