Pinturas rupestres em Lascaux. Fonte: http://www.newpicasso.org/cave-paintings-at-lascaux/
Flusser, nos trechos seguintes, descreve o processo de criação das imagens tradicionais (pré-históricas).
Toda imagem produzida se insere necessariamente na correnteza das imagens de determinada sociedade, porque toda imagem é resultado de codificação simbólica fundada sobre código estabelecido. Por certo: determinada imagem pode propor símbolos novos mas estes serão decifráveis apenas contra o mundo ‘redundante’ do código estabelecido. Imagem desligada de tradição seria indecifrável, seria ‘ruído’. Mas, ao inserir-se na correnteza da tradição, toda imagem propele por sua vez a tradição rumo a novas imagens. Isto é: toda imagem contribui para que a mundivisão da sociedade se altere. (…)
As novas imagens não são apenas modelos para futuros produtores de imagens, mas são, mais significativamente, modelos para a futura experiência, para a valoração, para o conhecimento e para a ação da sociedade. (…)
Em seguida, ele propõe uma breve definição para imagens tradicionais:
“São elas superfícies que fixam e publicam visões da circunstância passadas pelo crivo de um mito. Significam circunstância simbolizada por mito. E o fazem ao abstraírem da circunstância a sua profundidade. São elas mapas míticos do mundo. E, enquanto modelos de ação, fazem com que a sociedade se oriente no mundo segundo símbolos míticos, isto é, que aja magicamente.”
FLUSSER, Vilém. O universo das imagens técnicas: elogio da superficialidade. São Paulo: Annablume, 2008. (p. 20-21)