Somos testemunhas, colaboradores e vítimas da revolução cultural cujo âmbito apenas adivinhamos. Um dos sintomas dessa revolução é a emergência das imagens técnicas em nosso torno. Fotografias, filmes, imagens de TV, de vídeo e dos terminais de computador assumem o papel de portadores de informação outrora desempenhado por textos lineares. Não mais vivenciamos, conhecemos e valorizamos o mundo graças a linhas escritas, mas agora graças a superfícies imaginadas. Como a estrutura da mediação influi sobre a mensagem, há mutação na nossa vivência, nosso conhecimento e nossos valores. O mundo não se apresenta mais enquanto linha, processo, acontecimento, mas enquanto plano, cena, contexto – como era o caso na pré-história e como ainda é o caso para iletrados. No entanto, o presente ensaio procurará demonstrar que não se trata de retorno a situação pré-alfabética mas de avanço ruma a situação nova, pós-histórica, sucessora da história e da escrita. Nossa tese: as novas imagens não ocupam o mesmo nível ontológico das imagens tradicionais, porque são fenômenos sem paralelo no passado. As imagens tradicionais são superfícies abstraídas de volume, enquanto as imagens técnicas são superfícies construídas por pontos.
A leitura que tenho feito dos textos do Flusser tem bastante afinidade com o que eu já havia lido do Castells, sobre as mudanças de paradigma da sociedade a partir do desenvolvimento das tecnologias da informação e das comunicações em rede. Porém, Castells fala de aspectos econômicos e sociais. O que estou achando muito interessante do Flusser é a interpretação do mesmo contexto histórico sob o ponto de vista da filosofia da imagem. Ambos olham para o mesmo objeto (a sociedade pós-industrial), porém usam repertórios e argumentos diferentes. Legal também que o Flusser dialoga com o McLuhan (“o meio é a mensagem”).
Resgatei alguns links sobre Castells que eu coloquei por aqui há algum tempo (há 6 anos!!). Vejam:
a) Este trecho é bacana: segundo ele, não custa lembrar que a tecnologia não determina a sociedade, muito embora seja um elemento essencial em nossa história.
b) Reforçando esta mesma opinião, “a tecnologia é a sociedade, e a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas.”
c) Opa, olha aí ele chamando o McLuhan pra roda.
FLUSSER, Vilém. O universo das imagens técnicas: elogio da superficialidade. São Paulo: Annablume, 2008. (p. 15)