Parte da discussão do Ebai ficou em torno do do aprofundamento da definição de Arquitetura da Informação. Houve muitos questionamentos e outras interpretações sobre o termo enquanto área de estudo e campo profissional, o que eu achei ótimo, já que revelou uma postura crítica da comunidade de arquitetos em não repetir e aceitar as definições de poucos autores. (acompanhe os debates que estão rolando na lista de AI em português.)
Uma das críticas dizia que o Arquiteto da informação é, na verdade, o editor dos tradicionais veículos de comunicação. Dêem uma olhada nestes links:
Arquitetura da informação teoriza a web sem dar importância à função editorial
AI… ai, ai: APERTEM OS CINTOS, O EDITOR SUMIU
É uma posição polêmica e interessante, mas que no meu ponto de vista é restrita ao universo editorial e não reflete a atual condição da informação digital em rede. O papel do editor, nesse caso, pressupõe a internet como os tradicionais veículos de mídia.
Entendo “mídia” de outra forma. Algumas definições que considero interessantes:
“Mídias são meios, e meios, como o próprio nome diz, são simplesmente meios, isto é, suportes materiais, canais físicos, nos quais as linguagens se corporificam e através dos quais transitam. Por isso mesmo, o veículo, meio ou mídia de comunicação é o componente mais superficial, no sentido de ser aquele que primeiro aparece no processo comunicativo. (…) Veículos são meros canais, tecnologias que estariam esvaziadas de sentido não fossem as mensagens que nelas se configuram. (…) Embora sejam responsáveis pela multiplicação dos códigos e linguagens, meios continuam sendo meios. Deixar de ver isso e, ainda por cima, considerar que as mediações sociais vêm das mídias em si é incorrer em uma ingenuidade e equívoco epistemológicos básicos, pois a mediação primeira não vem das mídias, mas dos signos, linguagem e pensamento, que elas veiculam. (…) Quaisquer mídias são inseparáveis das formas de socialização e cultura que são capazes de criar, de modo que o advento de cada novo meio de comunicação traz consigo um ciclo cultural que lhe é próprio e que fica impregnado de todas as contradições que caracterizam o modo de produção econômica em que um tal ciclo cultural toma corpo.”
SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo: Paulus, 2ª. Ed. 2003. P. 117
O que eu quero dizer com isso: reconheço a importância e o papel da tecnologia (mídia) nos processos comunicacionais. Por outro lado, prefiro estudar e compreender a função do Arquiteto de Informação além do contexto editorial.
Quem é o editor do Delicious? Do Flickr? Da Wikipedia? Eu não acho que a internet se restringe às aplicações editoriais. Sei que elas existem e ainda predominam. Mas, por outro lado, ao pensar dessa forma, não exploramos todas as possibilidades oferecidas pela interatividade, colaboração, personalização e socialização da informação que a internet nos proporciona, qualidades únicas e particulares na história das mídias. Um exemplo: replicar o formato editorial de um jornal em um site é “fácil”, afinal, trata-se de algo muito mais parecido com um jornal, só que num suporte diferente. Em outras palavras: pensar a internet de maneira editorial funciona quando a encaramos como as outras mídias anteriores.
Interesso-me pela Arquitetura da informação como o campo de estudo que investiga as formas de organização e estruturação da informação no ciberespaço. Assim, tenho concordado cada vez mais com a idéia de que “internet não é prédio“.
Esses dias estou bastante influenciado pelas “Linguagens líquidas na era da mobilidade” e quero aprofundar na “Arquitetura líquida do ciberespaço“. Bom, se a informação é líquida, como foi citado no EBAI, ela escorre, vaza, entope, inunda. Acho que aí nós entramos, talvez não mais como Arquitetos da informação, e sim como “Encanadores da informação”.
Lá em Minas Gerais, encanadores também são conhecidos como “bombeiros”.