Cibercepção

Um trecho interessante de Roy Ascott, de 1994. (apesar do exagero nos neologismos…)

“A cibercepção envolve uma convergência de processos conceituais e perceptivos em que a conectividade de redes telemáticas desempenha um papel formativo. A percepção é estar ciente dos elementos ambientais através das sensações físicas. A cibernet, a soma de todos os sistemas de mediação computadorizada interativa e de redes telemáticas do mundo, é parte de nosso aparelho sensorial. Redefine nosso corpo individual da mesma maneira que conecta todos os nossos corpos em um todo planetário. A percepção é uma sensação física interpretada à luz da experiência. A experiência é agora telematicamente compartilhada: a tecnologia das telecomunicações computadorizadas permite que mudemos dentro e fora de cada um de nós a consciência e a telepresença no fluxo mediático global. Por concepção entendemos os processos de origem, formação ou de compreensão de idéias. As idéias vêm das interações e das negociações das mentes. (…) Estamos vendo o aumento da nossa capacidade de pensar e de conceitualizar, e a ampliação e o refinamento de nossos sentidos: uma conceitualização mais rica e uma percepção mais total tanto dentro quanto além de nossas limitações anteriores de ver, pensar e construir. (…)

Até agora pensamos e vimos coisas de uma maneira linear, uma coisa depois da outra, uma coisa escondida atrás de outra, levando a esta ou àquela finalidade, e pelo caminho dividindo o mundo em categorias e classes de coisas: objetos com limites impermeáveis, superfícies com interiores impenetráveis, simplicidades superficiais de visão que ignoravam as complexidades infinitas. Mas a cibercepção significa incorporar o senso do todo, adquirir uma visão panorâmica dos fatos como o olhar de um pássaro, a visão da Terra por parte do astronauta, a visão dos sistemas do cibernauta. (…) A cibercepção é a antítese da visão do túnel ou do pensamento linear. É uma percepção simultânea de uma multiplicidade de pontos de vista, uma extensão em todas as dimensões do pensamento associativo, um reconhecimento da transitoriedade de todas as hipóteses, a relatividade de todo o conhecimento, a impermanência de toda percepção. ”

ASCOTT, Roy. A Arquitetura da cibercepção. IN: LEÃO, Lucia (org.). Interlab: labirintos do pensamento contemporâneo. São Paulo: Iluminuras, 2002.

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