Aspectos pragmáticos e semióticos da desinformação

Eu, Geane Alzamora e Conrado Mendes – representando o grupo MediaAção da UFMG – apresentamos um resumo das nossas pesquisas sobre desinformação na VI Jornada dos Grupos de pesquisa em Semiótica. O caderno com os trabalhos apresentados está disponível aqui.

O trabalhou procurou trazer dois aportes semióticos para o tema da desinformação, que serão aprofundados em nosso livro “Sociedade da Desinformação e Infodemia” (no prelo). Segue abaixo o resumo que apresentamos.

Aspectos pragmáticos e semióticos da desinformação

Grupo de Pequisa MediaAção/ UFMG

Daniel Melo Ribeiro; Conrado Moreira Mendes; Geane Alzamora

RIBEIRO, D. M.; MENDES, C. ; ALZAMORA, G. . Aspectos pragmáticos e semióticos da desinformação. In: VI Jornada dos Grupos de Pesquisa em Semiótica, 2021. Caderno de resumo da VI Jornada dos Grupos de Pesquisa em Semiótica, 2021. v. 1. p. 61-62.

Este estudo deriva da pesquisa “A dinâmica transmídia de notícias falsas sobre o novo coronavírus”, desenvolvida pelo grupo MediaAção, vinculado ao Núcleo de Conexões Intermídia da UFMG. A investigação foi motivada pelo interesse em avaliar os desdobramentos comunicacionais que surgiram com a rápida expansão da epidemia de covid-19, tendo em vista o recorte da desinformação. A partir de pesquisa exploratória do tema, por meio de coleta de hahstags que ocuparam os trending topics do Twitter no primeiro semestre de 2020, elegemos como recorte empírico de investigação as formas de mediação estabelecidas no Twitter pela hashtag #perguntacorona. A referida hashtag remete ao programa televisivo da Rede Globo “Combate ao Coronavírus”, que foi exibido entre 17 de março de 2020 e 22 maio de 2020. Por meio dessa hashtag, a audiência do programa foi estimulada a publicar perguntas sobre a pandemia nas redes sociais online. No entanto, além de questões relacionadas à pandemia, observamos também que a hashtag foi associada a postagens que promoviam diferentes manifestações de desinformação.

Nesta apresentação, vamos destacar duas abordagens semióticas adotadas pelo grupo MediaAção para compreender essa trama de significados que emerge das postagens associadas à hashtag #perguntacorona, considerando suas implicações nas noções de informação e desinformação. Por um lado, partimos dos conceitos de crença e verdade, advindas do pensamento do filósofo e lógico estadunidense Charles Peirce. Diante dos discursos anticiência que ganharam destaque durante a pandemia de covid-19, levantamos as seguintes questões: por que a veracidade do discurso científico é questionada? O que leva uma parcela da população a desacreditar os argumentos da ciência em favor de outros discursos? De que maneira a ciência se aproxima da verdade? Assim, esta primeira apresentação tem como objetivo abordar os conceitos de verdade e crença no atual debate sobre a ciência e a desinformação. Para isso, vamos nos apoiar nos fundamentos do pragmatismo de Charles Peirce, bem como nas suas considerações sobre os métodos de fixação das crenças. De maneira sintética, o pragmatismo pode ser entendido como um método de elaboração de crenças que guiam a conduta, apontando para o aprimoramento da razão no longo curso do tempo. Assim, acreditamos que as ideias de Peirce sobre a articulação do pensamento deliberado podem esclarecer pontos obscuros sobre as causas da desinformação.

Em outra frente, analisamos parte do corpus relativo às postagens mais compartilhadas com a hashtag #perguntacorona, com base em pressupostos teóricos da semiótica discursiva de A. J. Greimas e da sociossemiótica de E. Landowski. Este segunda apresentação se guia pela seguinte questão: como se efetuam a dinâmica de propagação e a construção de sentido de textos relacionados à hashtag #pergun-
tacorona? Em outras palavras, indagamos: como pensar semioticamente a propagação da desinformação e sua relação com seu termo contrário, a informação? Para isso, as postagens são analisadas quanto à semântica discursiva do percurso gerativo do sentido (temas, figuras e isotopias), verificando-se, em seguida, as recorrências no plano do conteúdo. Depois disso, com base na relação de sentido entre elas, esta apresentação busca compreender as dinâmicas de propagação das postagens. Em seguida, as interações discursivas entre enunciador e enunciatário são examinadas. Com base nesse percurso, a desinformação é situada no quadro da veridicção, como fenômeno ligado às paixões (ao sensível) e, sobretudo, à crença. Finalmente, sustentados por essa análise, delineamos uma abordagem (sócio) semiótica da desinformação.

Embora as apresentações propostas estejam fundamentadas em matrizes semióticas distintas, argumentamos que essas duas frentes de investigação dos fenômenos da desinformação desenvolvidas pelo grupo MediaAção se complementam. Ambas as frentes contribuíram significativamente para o enriquecimento das reflexões em nossa pesquisa, ao trazer um olhar semiótico e pragmático sobre os discursos manifestados no corpus da pesquisa. Os resultados dessa pesquisa, que também envolve outros pesquisadores da UFMG, da PUC-Minas e da UFOP, serão publicados em um livro intitulado “Sociedade da desinformação e infodemia”. Além disso, será ofertado um curso sobre essa temática que integra os programas de pós-graduação da área de comunicação dessas três universidades.Palavras-chave:

Informação; Desinformação; Covid-19; Semiótica; Pragmatismo.

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