As cidades e as redes

Este post aborda uma breve reflexão sobre três aspectos:

a) a crescente aglomeração de pessoas nas grandes metrópoles;
b) a aparente contradição entre essa tendência e as possibilidades de trabalho à distância proporcionadas pelas tecnologias de informação em rede;
c) Afinal, por que diabos fui sair do aconchego do lar materno, cercado de reagalias e iguarias (quem conhece o rango da D. Leila sabe o que estou dizendo) e me mudei para São Paulo.

Vamos começar pelo CASTELLS (1999), com sua visão mais econômica e influenciada pelos movimentos de globalização à época do seu Sociedade em Rede.

As megacidades – maiores aglomerações urbanas do mundo, segundo a ONU – em especial, se tornam palco de contradições: articulam a economia global, integrando as redes de informação. Por outro lado, abrigam outros segmentos da população em áreas negligenciadas pelas tecnologias de comunicação e ao conhecimento. Se por um lado, estão conectadas a centros globais externos, internamente evidenciam a ruptura de estruturas sociais. Ainda sim, as megacidades continuarão a crescer, pois se constituem como pólos de desenvolvimento econômico, de inovação cultural e política e de conexão às redes globais. Em sua análise da influência das tecnologias da informação no espaço urbano, também coloca que, embora os recursos de telecomunicações e transações à distância estejam proporcionando novas possibilidades econômicas, as aglomerações e a proximidade física ainda são realidade. Ou seja, o trabalho ainda é presencial e não será substituído pelo trabalho à distância num curto prazo de tempo. O problema dos transportes é crescente, uma vez que requer maior mobilidade física da força de trabalho entre centros e periferia, incentivada pela compressão temporal das empresas em rede (muito mais atividades são realizadas numa mesma jornada de trabalho). O comércio eletrônico não elimina as grandes redes de varejo físicas. Pelo contrário, hipermercados e centros de compra se expandem cada vez mais, ao mesmo tempo em que inauguram suas versões também para a Internet. Idem para os complexos de saúde e as instituições de ensino, que passam a combinar funções locais e sistemas on-line.

Agora, o nosso amigo JOHNSON (2008), aquele mesmo que veio ao Campus Party e que fui ver, na primeira fila. (o cara é bom hein, até comprei o livro novo na hora, só para trocar uma idéia pessoalmente com ele e ganhar uma dedicatória)

“A ironia, é claro, é que as redes digitais supostamente deveriam tornar as cidades menos atrativas, não mais. O poder da telecomunicação e da conectividade instantânea tornaria a idéia de núcleos urbanos densamente povoados tão obsoleta quanto as cidades muradas da Idade Média. Por que as pessoas se espremeriam em agressivos meios superpovoados quando poderiam de uma forma igualmente simples trabalhar a distância em suas próprias casas? Porém, como se comprovou, muitas pessoas, na verdade, apreciam a densidade dos meios urbanos, precisamente por oferecer a densidade de confeitarias e cinemas de arte. À medida que as tecnologias aumentam nossa capacidade de encontrar esses nichos de interesse, esse tipo de densidade simplesmente se tornará cada vez mais atrativo. Esses mapas amadores oferecem um antídoto contra a grandiosidade, a complexidade e a intimidação das grandes cidades. Fazem com que todos se sintam em casa, precisamente porque se baseiam no conhecimento dos verdadeiros moradores da região.(…)

Há um motivo para que as pessoas mais ricas do mundo – que ao escolher o local no qual desejam constituir seus lares, têm opções praticamente infinitas – escolham reiteradamente viver nas áreas mais densamente povoadas do planeta. Em última instância, vivem nesses locais pelos mesmos motivos que os favelados de São Paulo: porque é na cidade que as coisas acontecem. As cidades são centros de oportunidades, tolerância, produção de riqueza, redes sociais, saúde, controle populacional e criatividade. Embora, é claro, ao longo das próximas décadas, a Internet e seus sucedâneos continuem a exportar alguns desses valores para as comunidades rurais, sem dúvida continuarão igualmente a reforçar a experiência de vida urbana. Os transeuntes nas calçadas se beneficiam tanto, se não mais, da Internet quanto os fazendeiros.”

(Sobre os mapas que ele se referiu no texto, será tema do próximo post.)

E então, como vai a minha vida em São Paulo? Bom, por exemplo, descobri uma tal de Starbucks que está me consumindo uma grana excessiva. Mas, como diriam os críticos, “relaxa, deixa de ser munheca-de-samambaia e aproveita o que a cidade tem de melhor”.

CASTELLS, M. A Sociedade em Rede. A era da informação: economia, sociedade e cultura. 6ª. Edição. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

JOHNSON, Steven. O Mapa Fantasma. Como a luta de dois homens contra o cólera mudou o destino de nossas metrópoles. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

Esta entrada foi publicada em comunicação, conhecimento, sociedade da informação, vida urbana. Adicione o link permanente aos seus favoritos.

Deixe uma resposta