“Cada período da história é marcado por meios de produção de linguagem que lhe são próprios. Quando novos meios surgem, seus potenciais e usos, ainda desconhecidos, têm de ser explorados. É a alma inquieta dos artistas que os leva, invariavelmente, a tomar a dianteira nessa exploração. (…) Um dos desafios do artista é dar corpo novo para manter acesa a chama dos meios e das linguagens que lhe foram legados pelo passado. O artista pode dar a qualquer meio datado uma versão contemporânea. Mas cada fase da história tem seus próprios meios de produção da linguagem. Vem daí o outro desafio do artista, que é o de enfrentar a resistência ainda bruta dos materiais e meios de seu próprio tempo, para encontrar a linguagem que lhes é própria, reinaugurando as linguagens da arte.
Os meios do nosso tempo, neste início do terceiro milênio, estão nas tecnologias digitais, nas memórias eletrônicas, nas hibridizações dos ecossistemas com os tecnossistemas e nas absorções inextricáveis das pesquisas científicas pela criação artística, tudo isso abrindo ao artista horizontes inéditos para a exploração de novos territórios da sensorialidade e sensibilidade. Isso não significa que não seja sempre possível utilizar meios precedentes, reinventando-os.”
SANTAELLA, Lucia. A estética das linguagens líquidas. IN: ARANTES, Priscila. SANTAELLA, Lucia (orgs.). Estéticas tecnológicas: novos modos de sentir. São Paulo: Educ, 2008