No ensaio “Imagens nos novos meios”, Flusser apresenta uma reflexão muito interessante sobre a evolução das imagens. Após apontar o caráter massivo das imagens televisivas, ele, ao final, prevê um futuro um pouco diferente. (o ensaio foi escrito em 1989).
Se essa mudança fosse alcançada (e em parte ela já está em curso), então o conceito “imagem” ganharia um quarto e novo significado. Entraria em jogo uma superfície incorpórea, sobre a qual, graças ao trabalho de muitos participantes, poderiam ser projetados significados. E os significados de imagem anteriores seriam “elevados” a um novo nível. A imagem, como nas condições atuais, permaneceria genericamente acessível; seria uma cópia confortável de se transportar. Ela recobraria seu potencial político, epistemológico e estético, como naquele tempo em que eram os pintores que as produziam. E talvez elas até mesmo recobrassem algo de seu caráter sagrado original. Tudo isso é tecnicamente possível hoje em dia.
O que se procura dizer aqui faz sentido não apenas para as imagens, mas também para a existência futura. Dito de modo sucinto: os novos meios, da maneira como funcionam hoje, transformam as imagens como verdadeiros modelos de comportamento e fazem dos homens meros objetos. Mas os meios podem funcionar de maneira diferente, a fim de transformar as imagens em portadoras e os homens em designers de significado.
FLUSSER, Vílem. O mundo codificado. Por uma filosofia do design e da comunicação. São Paulo: Cosac Naify. 2007. P. 159