Partiremos deste pressuposto: informação = situação pouco provável. Vejam só, como a coisa fica interessante:
Os aparelhos são programados para criarem situações pouco prováveis, a saber, imagens. Pois isto implica que tais imagens estão inscritas nos seus programas enquanto virtualidades, e que, quanto mais se desenrolam tais programas, tanto mais se torna provável a realização de imagens. (…) Os programas são jogos que “computam” (juntam) elementos pontuais ao acaso (“acaso” = o que caiu junto). Toda imagem técnica é produto do acaso, de junção de elementos. Toda imagem técnica é “acidente programado”.
Para entendermos melhor a ideia acima, vamos considerar a máquina fotográfica. Por mais que o fotógrafo possa explorar os limites inesperados de uma composição fotográfica, ele sempre será limitado a fotografar imagens que constam no programa da câmera. “O aparelho faz o que o fotógrafo quer que faça, mas o fotógrafo pode apenas querer o que o aparelho pode fazer.”
Por outro lado, a situação acima ilustra algo interessante: é latente a intenção do criador de imagens técnicas em produzir algo que possa agir contra o programa, contra as virtualidades esperadas.
“A tarefa da crítica de imagens técnicas é pois precisamente a de des-ocultar os programas por detrás das imagens. A luta entre os programas mostra a intenção produtora humana. Se não conseguirmos aquele deciframento, as imagens técnicas se tornarão opacas e darão origem a nova idolatria, a idolatria mais densa que a das imagens tradicionais antes da invenção da escrita.
De modo que a recepção das imagens técnicas exige de nós consciência que resista ao fascínio mágico que delas emana e ao comportamento mágico-ritual que provocam.”
FLUSSER, Vilém. O universo das imagens técnicas: elogio da superficialidade. São Paulo: Annablume, 2008. (p. 28-29)