Mas o homem parece ser o único fenômeno capaz de produzir informações com o propósito deliberado de se opor à entropia. Capaz de transmitir e guardar informações não apenas herdadas, mas adquiridas. (…)
O processo de manipulação dessas informações é a comunicação que consiste de duas fases: na primeira, informações são produzidas; na segunda, informações são distribuídas para serem guardadas. O método da primeira fase é o diálogo, pelo qual informações já guardadas na memória são sintetizadas para resultarem em novas (há também diálogo interno que ocorre em memória isolada). O método da segunda fase é o discurso, pelo qual informações adquiridas no diálogo são transmitidas a outras memórias, a fim de serem armazenadas.
Nunca havia parado para pensar que os conceitos de produção de informação e distribuição de informação pudessem, de maneira tão clara, serem classificados como diálogo e discurso. Ultimamente, estou tão imerso no contexto da linguagem computacional que eu, superficialmente, pensaria em coisas como banco de dados, redes, bits, etc. A forma como o Flusser cria definições e conceitua seu pensamento é algo genial: sintético e, ao mesmo tempo, inesperado, quase poético.
FLUSSER, Vilém. Filosofia da Caixa Preta: Ensaios para uma Futura Filosofia da Fotografia. São Paulo: Annablume, 2011. (P. 68)