“Os discursos que acompanham a sociedade da informação erigiram em lei o princípio da tabula rasa. Não há mais nada que não seja obsoleto. O determinismo tecnocomercial gera uma modernidade amnésica e dispensa o projeto social. A comunicação sem fim e sem limites institui-se como herdeira do progresso sem fim e sem limites. Na falta de memória, assiste-se ao retorno de uma escatologia de conotação religiosa que bebe nas fontes das profecias sobre a chegada da noosfera. (…) Toda atitude contrária a esse positivismo é rapidamente rotulada de tecnofóbica ou antimoderna. (…) Ao nos fazer crer que o acesso à Internet ao “saber universal”, que necessariamente terá sua fonte aos monopólios de saber já existentes, resolveria o problema não apenas da fratura digital, mas também o da fratura social. (…) A sociedade das redes está longe de ter colocado um fim ao etnocentrismo dos tempos imperiais. Em vez de resolver o problema, a tecnologia o desloca. Enquanto permanece a lancinante questão: como conceber e colocar em ação outros modelos de desenvolvimento? (…) A ditatura do tempo curto faz com que se atribua uma patente de novidade, e portanto de mudança revolucionária, àquilo que na verdade é produto de evoluções estruturais e de processos que estão em curso há muito tempo. (…) Refletir sobre os múltiplos entrecruzamentos das mediações sociais, culturais e educativas pelos quais se constroem os usos do mundo digital e que estão na própria origem da vida democrática. Opor-se ao fetichismo da velocidade neofordista por meio de outras relações com o tempo.” (p. 173, 174)
MATTELART, Armand. História da sociedade da informação. São Paulo: Edições Loyola, 2002.